O Correio dos Açores esteve nas Calhetas, no concelho da Ribeira Grande, a visitar uma grande exploração agrícola. Propriedade de Cláudia Ledo, este espaço de quase 3 hectares é “a maior área coberta” do género nos Açores e engloba nove complexos de estufas. “Nove estufas compostas por vários túneis”, especifica Cláudia Ledo.
A sua proprietária explica que ao nível da produção, “temos aqui tomate, tomate cherry, pepino, alfaces, pimentas, melancias, meloas e pontualmente pimentão e feijão verde”. Cláudia Ledo conta ainda algumas das quantidades de produtos hortícolas que consegue retirar desta grande exploração.
“A nossa maior produção é o tomate e podemos apanhar por semana, dependendo de vários factores, entre 3.000 a 6.000 quilos”. Para além desta produção, a empresária explica também que “o pepino pode ir até aos 2.000 quilos por semana” e de alface, “chego a tirar 1.000 a 1.500 quilos”. Precisamente sobre a alface, Cláudia Ledo realça que esta é a cultura “mais problemática a nível de fungos e isso, impede muitas vezes, que se consiga produzir em condições. Tenho uma área para poder tirar entre 2.000 a 2.500 quilos por semana”.
De forma “efectiva” à frente deste negócio desde 2016, a empresária admite que anteriormente “já vinha cá fazer um part-time” e destaca que este é um sector “de que gosto”.
Outra das particularidades que salta à vista quando se visita esta exploração de quase 3 hectares, são os dois tanques de cerca de 10 metros de profundidade e com 52 metros de comprimento por 22 metros de largura, destinados ao armazenamento de águas pluviais e que Cláudia Ledo, diz tornarem a exploração “praticamente auto sustentável” relativamente ao consumo de água.
Avança que “99% da nossa produção vai para as grandes superfícies”, admitindo no entanto que “eventualmente podemos enviar alguns produtos como tomate e pepino para o Mercado da Graça. Mas não estamos a falar de grandes quantidades”.
Numa fase em que o conflito no Leste Europeu veio acentuar o aumento das matérias-primas, Cláudia Ledo adianta que, “em alguns casos, os adubos têm subido 100%. Estou a falar apenas do último mês porque desde que começou a Covid os preços começaram a subir porque as fábricas começaram a fechar, o produto começou a ser vendido a um preço mais elevado e desde que começou a guerra não quaisquer duvidas de que os preços dispararam de uma forma descontrolada”. A empresária realça que apesar das queixas dos consumidores, “este é um aumento necessário porque, caso contrário, os agricultores não conseguem manter as suas culturas”.
Ainda a este propósito, Cláudia Ledo defende que “o Governo devia olhar com mais atenção para o sector da agricultura e não só para a lavoura. Os apoios são todos para eles e a lavoura consegue tudo o que quer e apesar de a agricultura ter algumas ajudas, não são nada comparados com os direccionados à lavoura”. Considera por isso que “se devia apostar mais na agricultura como forma de fomentar a produção para aumentar o consumo interno dos Açores” e que, pelo facto de não serem dados grandes apoios, “os mais jovens não se sentem estimulados a entrar” na agricultura. Cláudia Ledo lembra também que este foi um dos “sectores que nunca parou” durante todo o período da pandemia.
Outro dos grandes problemas apontados prende-se com a escassez de mão-de-obra. Numa exploração onde se encontram actualmente a trabalhar oito pessoas, admite que “precisávamos de mais mas não há (…) eles preferem ficar em casa do que vir trabalhar”.
A empresária destaca que “apesar de o suporte teórico” ser importante, “a maior parte da aprendizagem acontece aqui no campo, vendo as plantas, estando com elas e tentando perceber o que elas precisam”.
Sobre o futuro, refere que “gostava de aumentar esta área mas para isso necessitava de ter alguns apoios”, realça, antes de apontar um outro ponto que, na sua opinião, deveria ser alterado.
“É muito complicado porque produzimos tomate com a intenção de o vender e não de o colocar no lixo mas, muitas vezes, acontece as grandes superfícies mandarem vir tomate mais barato e o nosso tem de ir para o lixo”, destaca Cláudia Ledo que classifica este aspecto como sendo “uma má política”, defendendo que o Governo poderia dar algum tipo de incentivo para inverter esta tendência.
“É preciso dar valor ao produto açoriano, consumi-lo e só em caso de falta, é que se devia importar. O Governo podia por exemplo, impor uma quota e quem cumprisse recebia um determinado valor. Com a guerra, este até poderia ser o momento ideal para valorizar os nossos produtos”, frisa antes de voltar a afirmar que “gostava de aumentar a produção”, mas para que tal seja possível, é igualmente necessário “uma garantia de que consigo escoar o meu produto”.